Sobrecarga de Trabalho Mental das Mulheres


Um dia de semana qualquer:


Fazer o café da manhã.

Levar as crianças na escola.

Verificar se elas já almoçaram.

Buscar as crianças onde estiverem (torcendo para que não tenham tido problemas).

Orientar o marido sobre o que comprar para jantar e outros itens que venham faltar durante a semana.

Fazer as crianças tomarem banho.

Preparar o jantar enquanto elas fazem o tema de casa (torcendo para que façam).

Servir o jantar.

Pedir ao marido para lavar a louça da janta, para que seja possível tomar um banho.

Preparar a mochila dos filhos para o dia seguinte.

Colocar os filhos para dormir.

Levar o cachorro para passear e pedir ao marido que recolha o lixo da casa.

Ir dormir exausta, mas já planejando o dia seguinte.

Ser uma ótima profissional no trabalho, para não perder o emprego.


Dos diversos atravessamentos que a desigualdade de gênero impõe sobre a forma como nos relacionamos socialmente, os impactos na saúde mental das mulheres não ficam de fora. Pensar dá trabalho e gasta muita energia: isso quer dizer que elaborar uma lista de tarefas, elencando as prioridades e programar a execução delas, conciliando os imprevistos, por mais similar que seja ao clima organizacional, refere-se ao ambiente doméstico. Inclui-se aí os filhos, companheiros, animais domésticos, etc. 


Meninas são treinadas desde muito pequenas para os cuidados do lar: levante a mão quem nunca brincou com panelinhas ou com uma boneca bebê. E os meninos, infelizmente, ainda hoje não recebem os mesmos estímulos, já prevendo-se que, futuramente, ele será cuidado por alguma mulher. Também, infelizmente, o discurso sobre a divisão das tarefas domésticas acaba sendo colocado no lugar da “ajuda” ao invés de uma responsabilidade do homem pelo espaço que ele vive e compartilha com outras pessoas: esposa, filhos, animais domésticos, plantas, enfim, seu ambiente. 


Algum progresso em relação à organização familiar vem ocorrendo a passos lentos, sendo que, talvez, o mais importante deles, neste momento, seja levantar a lista de problemas e dificuldades que as mulheres enfrentam em suas realidades domésticas, para que todos tomem consciência delas. E que o trabalho mental das mulheres não é algo que pode ser tomado como próprio de sua natureza ou saudável. Mulheres adoecem e todo o núcleo familiar sofre as consequências. 


A mudança é lenta, constante e gradual. Mas quando se sentir sobrecarregada mentalmente, saiba colocar um limite a si mesma e pedir ajuda. 


Shirley Costa

Psicóloga

CRP-RS 07/27644


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