O viajante e seus três potes de sementes

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Há muitos e muitos anos, havia um senhor muito rico. Ele era dono de muitas terras, construiu toda sua riqueza plantando e colhendo os frutos que dela provinham. Este senhor sempre cuidou de seus bens com muito zelo e apreço. Dedicava-se com carinho às suas plantações, conseguia sempre os melhores negócios na comercialização e beneficiamento das sementes que plantava. Muito respeitado e ético no trato com fornecedores, clientes e principalmente com seus funcionários. Era um homem exemplar.

Certo dia, olhando ao seu redor, observando toda sua riqueza, o senhor se deu conta de que possuía tudo aquilo alguém poderia desejar para si: paz de espírito. E decidiu que chegara o momento de conhecer o mundo! Que já se encontrava para lá da metade da vida e sentiu um enorme desejo de pegar a estrada afora em busca de novos lugares, olhares, pessoas, culturas e realidades. Ele usou toda sua experiência e sabedoria para planejar sua saída. Organizou suas finanças para que parte dela pudesse ser utilizada no que fosse único e exclusivamente necessário em sua viagem. Quanto à outra parte, ele escolheria três pessoas de sua confiança para que pudessem cuidar de seus bens.

Então, ele vendeu suas terras transformando sua riqueza em três potes das sementes que foram seu sustento durante a vida. Em seguida, reuniu as três pessoas e lhes disse: "confio em vocês para que cuidem do meu bem precioso. Podem utilizá-lo como quiserem, porém, quando eu retornar da minha viagem irei visitar cada um de vocês para ver se souberam bem utilizar meu tesouro. Não tenho pressa nem data para voltar, porém, um dia, retornarei para esta terra."

E assim partiu o homem em sua viagem, esperançoso, com o brilho no olhar em busca de novas aventuras. Viajou ao redor do mundo, conheceu seus mistérios, sabores, belezas e pessoas. Conheceu novas realidades e pode vivenciar cada uma delas. Novas cidades, novas histórias. Por muitos e muitos anos aquele senhor havia viajado e se transformado. Contudo, chegou o dia de voltar para casa. E lá retornou o velho feliz e em paz, saudoso dos amigos e da família que deixara para trás.

Como prometido, o senhor também estava curioso para saber como estariam as três pessoas a quem havia confiado o cuidado de suas sementes. Chegando na casa da primeira pessoa, o senhor bateu algumas palmas no portão e um olhar arredio, como que houvera se esquecido daquele rosto surgiu à porta.

- Olá! Você se lembra de mim? Faz alguns anos que fui viajar e lhe entreguei um pote de sementes para que cuidasse delas. E então, o que aconteceu durante todo o tempo que estive fora?

- Ah! Claro que me lembro do senhor! Aconteceu que aquelas sementes eram muito saborosas, rendiam uma comida muito boa. Naquele final de semana mesmo em que o senhor saiu em viagem, chamei aqui em casa meus amigos e familiares e fizemos uma comelança. Foi um festerê que só vendo, dois dias de fartura. Que tempo bom aquele... Mas depois disso, continuamos assim, como o senhor está vendo. A vida não melhorou muito por aqui, não. Trabalho na terra, de vez em quando surge um servicinho aqui, outro ali... Aquele pote de sementes já não existe faz tempo!

Chegando na casa da segunda pessoa, ele logo percebeu algumas vaquinhas no cercado e uns pés de milho aos fundos. Perguntou-lhe:

- E, então, o que você fez com o pote de sementes que lhe entreguei?

- Olha... Aquela semente era muito valiosa, rendia um bom dinheiro. Então, fui até a cidade e negociei com um comerciante e com o dinheiro comprei umas vaquinhas, umas galinhas e tenho uma horta no quintal de casa para meu sustento e da minha mulher. E foi isso, aquele dinheiro todo não tenho mais, não...

O senhor agradeceu a visita e seguiu para a casa da terceira pessoa. Chegando lá  se assustou e até pensou que o endereço estivera errado! Avistou uma casa muito grande, formosa, cheia de funcionários e muitas terras. Feliz, porém confuso com o que via, foi logo perguntando:

- Então me conte, o que aconteceu com aquele pote de sementes que eu lhe confiei? Como você as usou?

- Sim, claro! As sementes do senhor eram da melhor qualidade! Plantei-as em meu quintal e obtive uma ótima safra naquele ano. Parte do lucro das vendas foi reinvestido em novas plantações e com a outra parte fui adquirindo mais terras, maquinário, contratei pessoas para me ajudar na produção. Passei por anos difíceis também, não nego. Teve estiagem e geada, o que me deu certo prejuízo. Mas também fui aprendendo a lidar com a terra e a conhecê-la melhor.

- Puxa, mas isso é uma ótima notícia! Estou feliz por você!

- Aliás, eu não via a hora de o senhor retornar de sua viajem, porque separei aqui dois potes de sementes para lhe entregar. Um deles estou lhe devolvendo, pois o senhor  o confiou aos meus cuidados. E o outro estou lhe entregando em gratidão por sua confiança em mim.

Diariamente a vida nos entrega potes de sementes, mas o que fazemos com elas, como as utilizamos só diz respeito a cada um de nós.

Esta história é uma adaptação de diversas outras que escutei aqui e ali. Venho narrando-a durante os atendimentos à adolescentes em vulnerabilidade social, pois em um mundo com escassez de oportunidades, às vezes, precisamos nos agarrar àquilo que nos é oferecido. Decidi compartilha-la um pouco mais amplamente, com o objetivo de que vá de encontro às necessidades daqueles que a ler.

Shirley Silva Costa

Psicóloga | CRP 07/27644


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