Vazio: o sentimento que não se sente não pode doer

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Um grande vazio. Um grande vazio a ser preenchido com algo que não se sabe bem o que é. Um vazio tão disforme e indefinível, difícil de saber de onde veio, como surgiu e o que fazer com ele. Apenas se tem um vazio: relações vazias, sem vida, sem graça... Um vazio tamanho, que chega a ser chato! Daí, se procura preencher aquele vazio com alguma coisa, qualquer coisa: saídas, bebidas, drogas, sexo casual, tatuagens por todo o corpo, piercings perfurando toda pele, discursos acalorados e cheios de razão na internet, raiva do mundo, mal humor... Mas o vazio não passa. Principalmente quando se está off line. "Ah! Como seria bom se alguém pudesse me dizer o que fazer para preencher esse vazio aqui dentro" - você diz a si mesmo. Mas, ninguém diz. E quando dizem, obviamente não lhe agrada. Alguém precisa levar a culpa disso tudo: seus pais, que não lhe deram a devida atenção de que precisava; a escola, que não soube ensinar; o país, que não gera emprego e oportunidades; as contas altas a pagar; seus amigos, que nunca foram amigos de verdade; a receita do psiquiatra, que não funcionou... Tudo e todos são culpados, exceto você mesmo. Vítima das circunstâncias. Parece até que existe algo de bom em sentir esse vazio.

E numa tentativa desesperadora de deixá-lo, se faz qualquer negócio. Chega-se aos limites mais extremos do corpo e dos sentimentos. Carrega-se por anos uma angústia que às vezes ameniza, mas nunca passa. "Será que eu sou normal?" - você pergunta. De qual ajuda você precisa? "Nunca me questionaram isso..." Como você gostaria que eu lhe ajudasse? "Não sei."

O relato acima é corriqueiro nos atendimentos de psicoterapia a adolescentes e jovens adultos. Jovens adultos, estes, que a cada geração prolongam mais a juventude. Psicólogas e psicólogos, respaldam-se na filosofia, sociologia, teorias cognitivas e psicológicas para auxiliar pessoas que sofrem com suas emoções. O esvaziamento de sentimentos e de sentido na vida dos milhares de jovens os levam à um sofrimento que parece não ter nome. Sentem-se perdidos. Fica assim, indefinido. Valem-se das redes sociais à procura de alguma identificação e encontram outras pessoas que preenchem seus vazios em relações virtuais, intangíveis e impalpáveis. A fantasia toma o espaço da concretude, não oportunizando as frustrações necessárias para formar o alicerce da resiliência. Todos permanecem em um estado de extrema vulnerabilidade emocional, passível de dissociação, de perda de si mesmo, a ponto de se evitar ao máximo o encontro e o enlace. Afinal, sentimento que não se sente não pode doer. Características de uma sociedade hedonista, movida à visualizações, likes, uma fantasia de sociedade ideal e vazia de afetos, de olho no olho, de emoções verdadeiras, de toque e contato humano. O tempo da última visualização do WhatsApp equivale ao tempo para um cafezinho, para o qual não se teve tempo; porém, peca-se no quesito qualidade.

O esvaziamento sentido atualmente pela sociedade, especialmente os mais jovens, diz respeito à nossa incapacidade de lidar com as diferenças. Sendo assim, melhor que se estabeleçam relações efêmeras, rasas, fantasiosas e virtuais, sem comprometimento, sem oportunidade para aprender com o erro, sem a paciência necessária para as ações do tempo, para não se correr o risco de que o "sim" e o "não" sejam mal interpretados ou incompreendidos. E frente à toda queixa de sofrimento por esvaziamento e objetificação das relações, como psicóloga, eu lhe pergunto: como você gostaria que eu lhe ajudasse?

Shirley Silva Costa
Psicóloga | CRP 07/27644

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