Quando o corpo fala


Quando Freud iniciou seus estudos sobre Psicologia, em meados do século XIX, o motivo que mais o intrigava era a histeria. Naquela época, a histeria era considerada uma doença que acometia mulheres, porque se acreditava que o padecimento do útero era a causa de sintomas como contorções, paralisias, cegueiras, etc. Anterior a Freud - e não surpreendentemente até os dias atuais - eles também estavam associados a possessões demoníacas, atribuindo sua origem ao místico e desconhecido.

Com o avanço dos estudos sobre a Psicologia, constatou-se que os sintomas causados pela histeria estão relacionados a conflitos emocionais tanto em homens quanto em mulheres. Certamente, contorções, cegueiras e paralisias originadas por emoções mal compreendidas são menos comuns atualmente. Contudo, uma nova sintomatologia ocupou seu lugar. Enxaquecas, azia, labirintite, dores musculares em geral, taquicardia, bruxismo, intestino irritado, constipações, psoríase, alergias, dentre outras enfermidades comuns são alguns exemplos de sintomas físicos cujo desencadeamento pode estar associado à algum fator emocional. E é frustrante quando, após uma bateria de exames e consultas, chega-se à conclusão que para determinado sintoma não há causa específica.

Existem pessoas que passam longos anos de suas vidas sofrendo e tratando dores de forma paliativa, ou seja, somente conseguindo um alívio momentâneo, porém sem cura. E por que isso acontece, nesses casos? Uma expressão popular muito correta diz que o corpo fala. Isso quer dizer que, quando não conseguimos verbalizar sobre sentimentos e emoções que nos afligem ou nos fazem sentir tristeza, quando ficamos irritados com nossos próprios comportamentos e não falamos sobre isso, nosso organismo tenta nos "ajudar" direcionando a dor psíquica para o corpo. Às vezes, o sofrimento é expresso pelo choro, raiva ou agressividade. Todavia, se a emoção não pode ser compreendida, aumentam-se as chances de que ela se torne o sintoma físico de alguma patologia.

Nossa sociedade, onde somente é permitido mostrar uma vida plena e superficialmente feliz, é um prato cheio para o surgimento de doenças cuja real função é nos alertar sobre algum sofrimento emocional. Psicólogas e psicólogos são os profissionais melhor indicados para auxiliar pessoas que sofrem algum tipo de dor física de origem psíquica. Por outro lado, sintomas originalmente físicos e tratamentos médicos prolongados também podem levar ao sofrimento psíquico, uma vez que se desconhece as chances de cura ou agravamento de doenças crônicas. O (a) psicólogo (a) escuta aquilo que está além do sintoma físico. Ele (a) escuta qual o sentido e significado da dor na vida de quem a sente. Portanto, quando uma dor de cabeça inexplicável lhe atravessar a tarde, quando uma azia surgir do nada ou quando as irritações na pele paralisarem seu dia, creio que seja importante avaliar o quanto há de emoções envolvidas no comprometimento físico e buscar psicoterapia.

Shirley Silva Costa
Psicóloga | CRP 07/27644

Contato: shirleyscost@gmail.com

@psicologiatodosdias

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