De que riqueza estamos falando?

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Levante a mão que nunca vivenciou ou conheceu personagens de alguma das histórias descritas abaixo.

I) Abriu um restaurante novo e bombástico na cidade. Todos dizem que o lugar é lindo, maravilhoso e que vale muito a pena conhecer. Você combina com alguns amigos e vai até o local. Chegando lá, fila para entrar! Não se sabe quanto tempo a espera irá durar, por isso, para não perder clientes, o restaurante oferece alguns petiscos para quem está aguardando. Depois de algumas horas, finalmente, você e seus amigos conseguem uma mesa. O atendimento é demorado, porque, obviamente, o restaurante está cheio. O preço dos pratos servidos são desproporcionais ao seu tamanho e a comida parece que foi aquecida no microondas. Mas o que valeu a pena, mesmo, foi tirar fotos e fazer check-in no lugar. Porque, afinal, não dá para ficar de fora do circuito gastronômico (e duvidoso) da cidade.

II) Então, você resolveu viajar nas férias para o país da moda. Datas marcadas, passagens compradas, reservas feitas, tudo certo para o grande dia. Durante todo o período de viagem, exibe várias fotos de lugares paisagísticos. Quando retorna, sente um vazio. Que viagem horrível! Hotel pouco confortável, quarto abafado, banho morno e picadas de mosquitos. A comida era ruim: ou tinha pimenta demais, ou faltava tempero. Sem contar quando serviam aquelas coisas que nem sei se eram comestíveis. E quanta gente feia! Muita pobreza, cidade suja, praia suja, falta de infraestrutura para o turista.  O clima? Um vilão: ou choveu demais, ou fez muito frio ou o sol na cara era insuportável.

III) E, por fim, você conhece alguém novo. Em um processo de aproximação, na tentativa de demonstrar simpatia e buscar afinidades, a conversa se desenrola sobre pontos em comum. O que gosta de fazer, qual é a sua profissão, enfim, atribuindo certa naturalidade ao diálogo. Mas, de repente, a conversa toma um rumo desconcertante: "onde você mora?" - ao que você responde despretensiosamente. "E quanto custa seu aluguel?". Você fica em silêncio tentando entender qual o sentido dessa pergunta em uma primeira conversa com alguém desconhecido, em um contexto tão informal. Dentre essas perguntas desconcertantes, também já lhe questionaram quanto você ganha no seu trabalho, quanto gasta com a manutenção do carro ou qual o valor do seu plano de Internet e TV a cabo, claramente com a intenção de descobrir o valor  aproximado de seus rendimentos. Então, me pergunto: de que riqueza estamos falando?

A satisfação pelo trabalho, por se sentir útil a alguém, por ser consciente do impacto que a sua ação tem na vida de outras pessoas é menos valorosa do que seu rendimento mensal? A experiência de uma viagem, nem que seja para uma região desconhecida dentro do próprio estado, com novos lugares, paisagens, pessoas, sabores, sensações, novas culturas e modos de viver a vida são menos importantes do que o valor pago pelo pacote turístico? A foto da comida e o check-in no restaurante vale mais a pena do que nosso bom e velho churrasco de domingo ou aquele pão quentinho com manteiga no fim da tarde?

A riqueza está em se emocionar com a vista de uma paisagem, ao sentir o cheiro de bolo assando no forno, no abraço caloroso de um amigo que jamais se interessou em saber seu saldo bancário. A riqueza está ao enfrentar o desconhecido com certo estranhamento inicialmente, mas que faz todo sentido quando nos desprendemos de preconceitos. A riqueza está em ser leal, honesto  e gentil com os próprios sentimentos sejam eles o amor, afeto e reciprocidade, sejam sentimentos não tão confortáveis, como raiva, inveja e ressentimento. A riqueza está no autoconhecimento, compreendendo o modo como ajo, penso e sinto. Ela está em saber se relacionar sem buscar nada em troca, cuidando para que a humildade não sirva de roupagem para a superioridade. E que atos de solidariedade não sejam confundidos com caridade para com qualquer pessoa: bonito ou feio, pobre ou rico, moço ou velho. A riqueza está em reconhecer que não se sabe tudo, não se é tudo, mas, corajosamente, busca incessantemente se tornar uma pessoa melhor. E isso quer dizer, mais feliz consigo mesmo. A riqueza está em colocar em prática aquilo em que se acredita e não somente reproduzir discursos moralistas.

Shirley Silva Costa
Psicóloga | CRP 07/27644

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